domingo, dezembro 31, 2006

A lareira da avó



Almoço em casa da belle-famille para festejar o fim de curso de uma sobrinha e o seu 1º emprego!

Menu:

Entrada - moscatel de Alijó com azeitonas de Elvas e saucisson.

Fondue de fromages especiais para este fim, creio que da Sabóia.

Vinhos brancos e tintos portugueses.

Doces igualmente portugueses.

Só faltou o arroz-doce da avó mas dele falarei mais tarde!

Esta é a lareira que nos aqueceu no almoço deste final de ano!

Não vos cheira a fumo?

Aquele fumo da infância da casa dos nossos avós?

Tempo

O tempo é um velho corvo
de olhos turvos, cinzentos.
Bebe a luz destes dias só dum sorvo
como as corujas o azeite
dos lampadários bentos.

E nós sorrimos,
pássaros mortos
no fundo dum paul
dormimos.

Só lá do alto do poleiro azul
o sol doirado e verde,
o fulvo papagaio
(estou bêbedo de luz,
caio ou não caio?)
nos lembra a dor do tempo que se perde.

Carlos de Oliveira

sábado, dezembro 30, 2006

Dia de alegria

Embora tenha estado tentada a tecer considerações sobre as pavorosas notícias que nos têm chegado nestes últimos dias, decidi-me por uma nota de alegria.
Hoje nasceu uma criança na minha família, do lado materno.
Nasceu no Hospital de Santarém, é um rapaz e chama-se Martim.
Que seja muito feliz e muito amado...

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Vila do Conde

" Vila do Conde
espraiada
Entre pinhais, rio e
mar."

José Régio


Vila do Conde mergulhada em dor pelos que vieram morrer, esta manhã, ali, no mar da Nazaré, tão perto da praia, tão longe dos seus!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

De boas intenções...



De regresso a casa, vislumbrei a Colegiada batida pelo sol poente! Este foi o canhestro resultado da tentativa de captar aquele instante!

De boas intenções...

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Lá fora...cá dentro

Lá fora, do outro lado da praça, o Natal esvai-se no silêncio a tremeluzir das montras.
Cá dentro, sentada de costas para a televisão, de pernas estendidas na direcção das labaredas, interrompo a leitura de "A Louca da Casa" e faço um balanço de dois anos.
Ano um - ano de um não-tempo cheio de nebulosidade, de procura de um sentido, de fuga ao real.
Ano dois - ano de escuridão, de dor, de não aceitação, de cansaço.
Já começou o ano três - como será?

terça-feira, dezembro 26, 2006

Gatanices

Este avental tão "gatanício" foi-me oferecido por uma amiga que detesta bichanos!
Como já tinha esta prenda em casa há uns dias, estreei-a logo no sábado ao jantar.
Fiz massa de robalo com camarão e foi um desatino total!
Todos, mas mesmo todos, queriam chegar ao tacho!
Os do avental e os a sério.
Foi um jantar muito bem sucedido, apesar da confusão!

segunda-feira, dezembro 25, 2006

O Menino ainda não tinha chegado...

Cuidado! O Natal é uma doença contagiosa...


Este é um pormenor de um dos presépios mais bonitos cá da terra!
Não resisti e saí ontem para o ver, ainda não estava pronto mas dá para se ter uma ideia.
À boca da noite terminou o assédio natalício de familiares e amigos:
- Não tem jeito nenhum passarem a noite de Natal os três sozinhos!
E eu:
- Ficamos muito bem! Um filho, um pai e uma mãe... não há vaquinha, nem burrinho mas há três gatas que também desempenham um bom papel!
Foi o Natal com menos figurantes da minha existência mas foi bonito também!

sábado, dezembro 23, 2006

Miguel Torga contista e conquista!



Os gatos são a fingir! Os verdadeiros estavam a dormir em baixo. E foi neste cenário que passámos o 1º serão a lenha.

Bem aconchegada à lareira, acabei de reler o conto "Natal" de Miguel Torga que está nos "Novos Contos da Montanha".

O velho Garrinchas, apesar das dificuldades acabou por ter uma bela consoada.

Além de excelente poeta, Miguel Torga também é um dos bons contistas portugueses.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Ao calor da lareira...

Vivo quase há três anos neste apartamento e ainda não tinha acendido a lareira.
Cansada do barulho do ar condicionado e saudosa dos pés descalços, bem esticados para o quentinho, decidi-me.
Fui à casa grande, enchi dois cestos de lenha, meti-os no carro, trouxe pinhas guardadas há anos, comprei acendalhas, pelo sim, pelo não e, finalmente, voltei a experimentar aquela doce sensação do calor a bater-me na cara, enquanto estendia o braço para um dos livros que ando a ler.
Claro que fui ajudada em toda esta trabalheira de cestos no carro, no elevador e depois em casa e ainda foi preciso mudar a posição de um dos sofás.
Mas valeu a pena!
Será que fui apanhada pelo espírito natalício?

Um dia muito cheio!

Além das compras que tive que fazer, sem sair do bairro, mesmo depois de grande resistência - há sempre crianças a contar com alguns embrulhos e adultos também, diga-se em abono da verdade - acompanhei o meu cara-metade a uma festa de Natal, numas instalações novinhas conseguidas à custa da população, do dinheiro de emigrantes e de algum apoio da Segurança Social, na freguesia dele. Os intervenientes especiais eram crianças de uma creche e homens e mulheres da dita 3ª idade, mas daquela que ainda só tem apoio ao domicílio.
Foi lindo!
Amanhã talvez coloque algumas fotos.
À noite fui à última Assembleia de Freguesia do ano, cá da santa terrinha. Foi um enorme sacrifício porque estava um frio de rachar mas fiz bem. Do lado do público fiz os possíveis por mostrar que o voto do povo não cai em "saco roto" e que é possível acreditarem em quem votaram, independentemente de se encontrararem na oposição. Quem está no poder tem sempre facilidade em fazer passar a mensagem.
Antes, ainda, tive tempo de visitar "O castelo vai nu" e verifiquei que me ofereceram, como Boas Festas, a leitura de "Movimento Perpétuo" de António Gedeão.
Fiz os comentários que quis, mais ou menos desatinados, devido à minha mania de fazer leitura excessivamente global. Por isso não resisto, apesar do adiantado da hora, a transcrever um dos poemas dessa primeira obra do poeta.
Como gosto de todos, escolhi um dos mais pequenos porque a prosa vai alongada.
AMOR
Recorto na dor impressa
nos olhares que se consomem,
o perfil de um outro homem
que em termos de amor se meça.
Tanta semente se perde
em terras siliciosas!
Tantas agulhas rochosas
à beira de um prado verde!
Tanto pão por amassar!
Tanta boca por sorrir!
Oh quem pudesse partir
e um dia ressuscitar!
Com amor para "O Castelo vai nu", apesar de não saber se me visita.
É que, de facto, o meu blog não é um blog local, é mais "generalista".

terça-feira, dezembro 19, 2006

O que poderei dizer hoje? O que poderei mostrar?

Que está um lindo dia, um pouco frio como é natural em Dezembro.
Que neste dia faz dois anos que partiste e nos deixaste arrasados de dor.
Que a tua ausência é uma presença constante.
Que no meio do silêncio mais profundo te escutamos.
Que temos saudades tuas.
Que nos fazes falta.
Que gostaria de ter partido logo a seguir a ti.

Posso mostrar a quem me visita o espectacular "mar" de Minde que me pacifica a alma mesmo quando o vejo apenas em imagem.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Silêncio

À custa de pensar
Julgo falar.
Chego a esperar
Por respostas
Que tardam
Em chegar!
Pois se eu nem cheguei
A perguntar...

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Notícias da minha varanda


A orquídea floriu apresentando três belas hastes!
Nem sei como ganhou coragem com este frio, só para vir embelezar a minha varanda.
Em contrapartida, o espanta-espíritos não aguentou tanta ventania, estilhaçou-se e emudeceu, para alívio da vizinhança. Agora estou completamente desprotegida face ao espírito natalício que anda por aí à solta.
Se me virem andar na rua com estrelinhas douradas coladas na testa, guizinhos pendurados nas orelhas e uma coroa de azevinho de plástico, claro, a ornamentar-me a cabeça, já sabem o que aconteceu...

terça-feira, dezembro 12, 2006

30 Anos de Poder Local Democrático

No Pavilhão Atlântico, ali à beira do Tejo, realizaram-se as cerimónias alusivas a uma data importantíssima para a nossa Democracia, 30 anos de Poder Local Democrático.
Discursaram em primeiro lugar os representantes daqueles que, pela sua proximidade às populações, melhor conhecem os seus problemas, as suas necessidades e no fim o Senhor Presidente da República.
Independentemente das assimetrias, de um Portugal a várias velocidades, de conceitos bem diversos daquilo que contribui para o desenvolvimento harmonioso dos munícipios e freguesias é ao Poder Local que cabe uma grande fatia do mérito de termos hoje um País bem diferente, para melhor, daquele que foi o ponto de partida a 12 de Dezembro de 1976.
Contudo, durante todos os discursos, os telemóveis não pararam de tocar, as pessoas não deixaram de tratar dos seus negócios e reuniões à distância e, logo que o Prof. Cavaco Silva terminou a sua intervenção, foi uma debandada geral.
Seguiram-se outros panéis, uns mais interessantes que outros e às tantas tive que ir embora.
Do lado de fora, amontoavam-se todos ou quase todos os que que haviam saído, em amena cavaqueira.
Somos assim!
De facto, temos ainda muito caminho a percorrer em termos de cidadania, de educação e de saber estar!

sábado, dezembro 09, 2006

O belo portal manuelino da Igreja Matriz da Golegã



O Cant´Auris foi cantar à Golegã!

Eis aqui uma perspectiva do belo portal manuelino da sua Igreja Matriz.

A pouca habilidade da fotógrafa deu este resultado: além do portal, três cabeças de jovens coralistas.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

A Nina está de volta

Esta é a Nina, mais conhecida por Maluquita, recolhida num estaleiro, faminta, enfezada, pequenina.
Depois de ter vivido no nosso apartamento durante alguns meses, foi passar uns tempos à casa grande, a tal casa onde dificilmente voltarei a morar por não encontrar aí o meu lugar.
Regressou ontem, porque o último sem-abrigo, salvo do motor dum automóvel e lá instalado, de um doce gatinho preto, transformou-se num malvado.
Batia-lhe, não a deixava comer e dificultava-lhe a entrada em casa.
A Nina está de volta e o famigerado Petrus ainda há-de ter saudades dela!

terça-feira, dezembro 05, 2006

Chove

Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim...
De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim!

Numa angústia sem remédio
Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter...

Quem eu pudera ter sido,
Que é dele? Entre ódios pequenos
De mim, ´stou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!


Fernando Pessoa ( Inéditos )

sábado, dezembro 02, 2006

O Pai Natal assusta-me!

Moro num 5º andar e mesmo por baixo, no rés-do-chão, há uma loja chinesa cujos proprietários vivem no 2º andar.
Aviso, desde já, que não sou preconceituosa em relação a estrangeiros, qualquer que seja a sua raça, cor, religião, etc. No meu prédio moram, além dos referidos comerciantes chineses, brasileiros, ucranianos, espanhóis, portugueses, brancos, negros e mestiços. Digo isto para não pensarem que me incomoda o comércio chinês.
O que me incomoda, assusta mesmo neste momento é a quantidade de Pais Natal que, nas montras, trepam por escadas, enrolam-se em cordões luminosos, com sacos, com óculos, grandes, pequenos, gorduchos, com um sorriso suspeito, com renas, sem renas...
Como vivo bem alto, tenho o hábito de deixar entreaberta a porta da cozinha que dá para a enorme varanda, quer faça sol, chuva, de noite, de dia e, por isso comecei a cismar com cenários pouco repousantes.
Cenário 1 - Um Pai Natal foge da loja, escala o prédio, entra-me em casa e eu acordo com os seus "hô! hô! hô" à minha cabeceira.
Cenário 2 - Entro em casa e dou com ele, na cozinha, a tentar "fardar" de renas as duas gatas residentes.
Cenário 3 - Estou sentada no sofá da sala, de costas para a entrada, posição totalmente desaconselhada pelo Feng Shui (a arte antiga chinesa de viver em harmonia com o que nos rodeia), pé ante pé ele entra, enrola-me ao pescoço um cordão de luzes e, enquanto tenta sufocar-me, ainda consegue roubar-me os Mon Chéri que restam numa taça colocada à minha frente, gargalhando uns quantos "hô! hô! hô".
Este último cenário é o mais assustador, porque com frio não vivo sem chocolate.
Perante tudo isto, pelo sim, pelo não, vou manter a porta fechada até ao fim das festividades, esperando que o malvado se estatele lá em baixo, se tentar subir até ao 5º andar!

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Abriu a época natalícia


Como se faz a abertura da caça, do ano lectivo, do ano judicial, da época balnear, etc, etc, também se faz a da época natalícia.
A data não está, temporalmente, bem definida mas creio poder situá-la quando, nos separadores dos programas de televisão, aparecem estrelinhas com sinos a badalar e quando na publicidade se ouve música alusiva acompanhando o Pai Natal, com o seu cortejo de sugestões de prendas para miúdos e graúdos, desde os mais próximos até aos que se vêem uma vez por ano e ainda quando, da sigla de alguns canais colocada no canto superior esquerdo, saem chuviscos de estrelas.
Mas, decididamente, a 1 de Dezembro o Natal já se instalou nas praças, ruas, montras de todas as localidades com o mínimo de duas ruas e uma praça.
Por aqui, nas cidades deste abençoado concelho, já está instalado um autêntico arraial minhoto, tantos são os arcos, as cores e os motivos, apesar do corte orçamental para esse efeito.
Segundo a minha suspeita opinião, salvam-se as árvores da Praça do Município, o edifício dos Paços do Concelho ( apesar daqueles pinheirinhos pindéricos no telhado) e o contorno luminoso da Colegiada lá em cima, ligeiramente abaixo do Castelo, neste caso, felizmente, quase sempre iluminado todo o ano!

quinta-feira, novembro 30, 2006

Meu coração é um pórtico partido


Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar
E cada vela passa num sentido.

Um soslaio de sombras e ruído
Na transparente solidão do ar
Evoca estrelas sobre a noite estar
Em afastados céus o pórtico ido...

E em palmares de Antilhas entrevistas
Através de, com mãos eis apartados
Os sonhos, cortinados de ametistas,

Imperfeito o sabor de compensando
O grande espaço entre os troféus alçados
Ao centro do triunfo em ruído e bando...


Fernando Pessoa, in Cancioneiro


Uma pequena homenagem ao grande Pessoa que nasceu a 13 de Junho de 1888 e morreu a 30 de Novembro de 1935, faz hoje 71 anos.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Pôr do Sol

F Faz hoje precisamente três meses que me meti na aventura de ter um blogue.
Agradeço as 1.300 visitas feitas até agora e peço desculpa pelo tom melancólico da maioria das minhas postagens.

Para comemorar, escolhi uma fotografia tirada por mim no miradouro das Portas de Coimbra, final de um dos percursos sugeridos a partir do Palace Hotel do Buçaco.
O tempo não estava de grande feição mas a Mata do Buçaco merece a nossa visita em qualquer época do ano!

sexta-feira, novembro 24, 2006

Desencontro


Que língua estrangeira é esta
que me roça a flor do ouvido,
um vozear sem sentido
que nenhum sentido empresta?
Sussurro de vago tom,
reminiscência de esfinge,
voz que se julga, ou se finge
sentido, e é apenas som.
Contracenamos por gestos,
por sorrisos, por olhares,
rodeios protocolares,
cumprimentos indigestos,
firmes apertos de mão,
passeios de braço dado,
mas por som articulado,
por palavras, isso não.
Antes morrer atolado
na mais negra solidão.


Rómulo de Carvalho/António Gedeão nasceu a 24/11/1906. Faria hoje 100 anos.
Rómulo de Carvalho morreu, António Gedeão permanece!

quinta-feira, novembro 23, 2006

A morte não sai das ruas em Bagad



"É a guerra aquele monstro que quanto mais come e consome tanto menos se farta."

Padre António Vieira

Em Bagdad continua-se a morrer! Cada dia é mais sangrento que o anterior!

A morte não sai das ruas de Bagdad!

quarta-feira, novembro 22, 2006

Ó meu cogumelo preto


Ó meu cogumelo preto,
minha bengala vestida,
minha espada sem bainha
com que aos mouros arremeto.

Chapéu-de-chuva, meu Anjo,
que da chuva me defendes,
meu aonde pôr as mãos
quando não sei onde pô-las.

Ó minha umbrela - palavra
tão cheia de sugestões,
tão musical, tão aberta!

Meu pára-raios de Poetas,
minha bandeira da Paz
minha musa de varetas!

Sebastião da Gama


Nota:
Para animar os dias de chuva...

quarta-feira, novembro 15, 2006

Regresso ao sótão

O sótão já era, nessa época, um armazém de memórias, mas a noite de 2 de Dezembro de 2003 veio aumentar-lhe a capacidade de armazenagem.
Nessa noite a casa ficou parcialmente destruída e totalmente danificada por um incêndio. Salvou-se o sótão e foi para aí que foram levados alguns despojos.
Ontem voltei lá, para mais uma sessão de" exorcismo".
Era preciso separar por nomes, rasgar, limpar, encaixotar, arrumar em estantes livros escolares, álbuns de B.D., cadernos de apontamentos, testes, legos, jogos, índios e cow-boys, cartas, bilhetinhos..enfim um mundo de recordações.
Quilos e quilos de papel foram para a reciclagem...mas com tanta hesitação!...
É apenas papel - pensava eu.
Só que tomar esta decisão, quando a cada passo ia lendo um nome escrito com letra infantil, de adolescente e de jovem universitário foi uma agonia.
Esta manhã voltei ao sótão e o pior já está!
Tinha de ser!
E no jardim ainda há rosas!...

O Grito



O grito mais lancinante é aquele que ninguém ouve!

domingo, novembro 12, 2006

Atlântico

Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia.

Sophia de Mello, in Poesia







Santa Eulália - Algarve

sábado, novembro 11, 2006

Mar


Já o vi com vários cambiantes de azul e verde, prateado, acinzentado, negro salpicado de estrelas pescadoras e até roxo. Mas nunca o tinha visto com uma imensa orla acastanhada desvanecida logo que a tempestade deu lugar à bonança .
Quando lhe lancei um último olhar, antes de regressar à serra, foi com um estontente azul turquesa que me presenteou.
E deixou-me, de novo, um pouco mais reconciliada com a vida!

sexta-feira, novembro 03, 2006

À espera de um sinal ao Sul

Vou partir rumo ao Sul
Sentar-me frente ao mar
E esperar
Que me dês algum sinal!

Pode ser
nuvem
estrela
gaivota
barco
concha
chuva
Seja o que for
Eu vou entender
Quando estiver
Frente ao mar
À espera
Do teu sinal...

quarta-feira, novembro 01, 2006

Dia do Bolinho

Neste dia 1 de Novembro, cumpriu-se mais uma vez a tradição e as crianças sairam de casa bem cedo, para pedirem o "Pão por Deus".
Mas a cidade dificulta-lhes a tarefa.
São prédios com muitos apartamentos, alguns vazios e elas já aprenderam que por aí não levam nada.
Optam pelas zonas de moradias onde as pessoas procuram estar presentes para as receber.
Contudo cada vez se vê menos criançada pelas ruas.
À minha porta não bateu ninguém!

domingo, outubro 29, 2006

Cidade


Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o meu vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello, in Poesia

sábado, outubro 28, 2006

Polvo à moda do Porto


Não, não é de uma receita deste excelente molusco que eu vou falar, caros bloguistas que, eventualmente, me visitam.
É sim de um artigo da revista Visão que nos mostra num organograma (ou será um organigrama?) como funciona a Câmara Municipal do Porto, gerida por esse campeão da moralidade, o Dr. Rui Rio.
Aquilo são tentáculos por tudo o que é Departamento, Assessoria, Empresa Municipal!
Fiquei incomodada, escandalizada mesmo perante tal rede familiar.
Felizmente que na Câmara do meu concelho nada disto se passa.
Ninguém é filho, irmão, pai, mãe de ninguém.
Por mais competente que se seja, quem é familiar de algum dos principais responsáveis autárquicos , fica proibido de entrar em serviços dependentes da Câmara.
Por aqui impera a moral e os bons costumes!

quinta-feira, outubro 26, 2006

Lamento

Pátria sem rumo, minha voz parada
Diante do futuro!
Em que rosa-dos-ventos há um caminho
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Que o poeta, adivinho,
Veja com nitidez
Da gávea da loucura?

Ah, Camões, que não sou, afortunado!
Também desiludido,
Mas ainda lembrado da epopeia...
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!...
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente...

Miguel Torga

quarta-feira, outubro 25, 2006

Desabafo

Que Associação Humanitária é esta que retira 7 moradores em perigo de uma rua e não faz, de imediato, o reconhecimento total de toda a área?

Que vizinhos são estes que esquecem ou desconhecem a existência de uma idosa acamada a viver junto deles?

Que sociedade é esta que esquece os seus idosos e os deixa morrer no maior dos abandonos?

Quem sou eu para estar a apontar o dedo aos outros?

Afinal quem era esta senhora, moradora numa rua em Pombal, sem familiares, sem amigos, sem ninguém?

Talvez o seu último suspiro tenha sido de alívio por deixar este mundo-cão!

terça-feira, outubro 24, 2006

No Entardecer da Terra

No entardecer da terra
O sopro do longo Outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
As folhas, e volve, e revolve,
E esvai-se inda outra vez.
Mas a folha não repousa,
O vento lívido volve
E expira na lividez.

Eu já não não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E até do que hoje sou
Amanhã direi, quem dera
Volver a sê-lo!... Mais frio
O vento vago voltou.

Fernando Pessoa, in Cancioneiro

domingo, outubro 22, 2006

Alerta Amarelo

O aflitivo tilintar do espanta-espíritos da varanda e as bátegas de chuva na persiana não convidavam a sair de "vale de lençóis".
De olhos bem fechados, tentei elencar razões que me fizessem destapar a cabeça, soerguer-me e saltar da cama. Finalmente encontrei uma bem pertinente - a solidariedade conjugal.
Arrastei-me para a sala. Na SIC Notícias, Rui Cardoso Martins, jornalista do Contra-Informação, falava dos dislates governamentais da semana que terminou e afirmava que a partir de agora nada podia ficar como antes.
Dei uma olhadela à 1ª página do Expresso (ontem não o pude fazer, por estar numa festa de casamento) e aí, em letras garrafais o título: Orçamento Cruel. Na 2ª coluna desse artigo lê-se:
" O ministro das Finanças diz que quer tirar aos que mais têm. Mas o aumento de impostos para pensionistas e deficientes e as taxas moderadoras nas operações e internamentos tornam este OE, em certos aspectos, bastante cruel."
Decidi:- vou tomar o pequeno-almoço, talvez isso me anime!
De regresso à sala, a nova mirada na imprensa local e regional, saída na sexta-feira, não ajudou nada.
Os disparates das declarações dos governantes locais são cada vez mais preocupantes.
Novo intervalo, desta vez para o almoço, rápida arrumadela à cozinha, nova visita ao "museu do traje" e arrumação de gavetas.
Entretanto, o cara-metade, cheio de coragem, decidiu enfrentar a tempestade e foi beber café.
Volto para o sofá. A Nocas, a gata residente no apartamento, aninha-se no meu colo.
Afinal sempre há pequenos nadas que podem ser animadores neste dia de alerta amarelo!

sexta-feira, outubro 20, 2006

Sem Paciência!

Acabei de ter este desabafo num dos blogues que visito diariamente - estou sem paciência!
Será da chuva?
Será dos 360 euros das minhas novas lentes?
Será da visita que fiz ao meu museu do traje? ( sim, eu tenho um museu do traje só meu )
Será por ter aí verificado que o que me sobra em roupa, falta-me em bom gosto?
Será que é por ser o fim-de-semana não? ( ausência do filho )
Será por tentar ler à luz de velas, para ser uma consumidora exemplar?
Será pela breve leitura de alguns artigos na imprensa local e regional? ( e ainda não cheguei à nacional)
Por que será?

quarta-feira, outubro 18, 2006

Sem Título

Às vezes julgo ver nos meus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido,
Se a vida tivesse sido outra.

Mas dessa fabulosa descoberta
Só me vem o terror e a mágoa
De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água.

Sophia de Mello, in Poesia

segunda-feira, outubro 16, 2006

Dia de Chuva

Chove torrencialmente!
Por falta de um adequado sistema de escoamento temos menos sorte do que o povo eleito na travessia do Mar Vermelho. Ou encharcamo-nos ou encharcamos os outros!
Entretanto, para animar, como todas as segundas-feiras, espera-me um almoço de trabalho na companhia de dois bons amigos. E é sempre bem divertido embora só bebamos água.
O pior é o resto da tarde que é também de trabalho mas não com amigos, apenas com conhecidos!
Para terminar, e a propósito de chuva, aqui vai mais uma do livro A Tertúlia dos Mentirosos:
" Um homem - conta uma tradição chinesa - caminhava lentamente à chuva.
Um outro que ia a passar depressa perguntou-lhe:
- Porque não andas mais depressa?
- Lá à frente também chove - respondeu o homem."

domingo, outubro 15, 2006

Quentes e Boas


No final de Agosto, nos arredores de Celorico da Beira, os castanheiros estavam assim cobertos de ouriços de um lindo tom amarelado. Lá dentro, as castanhas ultimavam a sua maturação.
Neste fim-de-semana, na rua principal da minha cidade, apareceram os homens das castanhas com os seus carrinhos bem característicos. Elas , de um cinzento prateado, exalavam um cheiro de Outono e, no ar, o fumo ajudava a pintar o quadro.
Contudo não cheguei a prová-las...

sábado, outubro 14, 2006

O Tâmega em Amarante


Finalmente consegui postar uma imagem sem grande ajuda.
Escolhi o Tâmega em Amarante, no mês de Agosto.
Tâmega que levas as águas...
Amarante, que deliciosos doces tens...

quinta-feira, outubro 12, 2006

Grande Mulher

Duas semanas depois de ter conquistado, em Pequim, a Taça do Mundo de Trialto, Vanessa Fernandes sagrou-se, no passado fim-de-semana em Turim, campeã europeia de Dualto.
Ontem, na Polónia, a selecção nacional vestiu-se de luto, por antecipação.

quarta-feira, outubro 11, 2006

O mar e a serra

" Homme libre, toujours tu chériras la mer "

Charles Baudelaire


Sou uma jangada à deriva na serra!

terça-feira, outubro 10, 2006

Tertúlia dos Mentirosos

Recebi, há já alguns anos, das mãos do meu filho mais novo, um livro de contos filosóficos do mundo inteiro intitulado Tertúlia dos Mentirosos.
" São contos engraçados, graves ou as duas coisas, ao mesmo tempo. São, por vezes, ambíguos, desconcertantes e, até inquietantes.
Parecem-se connosco."

Como não me canso de reler algumas dessas estórias aqui vai uma, das mais pequenas, para não cansar os eventuais visitantes.

"Como tivesse perdido o seu burro - conta uma história turca - Nasreddin Hodjâ mandou proclamar por toda a cidade que daria o animal a quem lho trouxesse, ainda por cima com a albarda e a cabeçada.
E como alguém se admirasse de ele prometer assim dar o seu burro a quem lho trouxesse, não vendo o que ele tinha a ganhar com a promessa, Nasreddin respondeu:
_ Achas então insignificante a alegria de encontrar uma coisa oerdida?"

domingo, outubro 08, 2006

Poema Perdido

Porque eu trazia rios de frescura
E claros horizontes de pureza
Mas tudo se perdeu ante a secura
De combater em vão.

E as arestas finas e vivas do meu reino
São o claro brilhar da solidão.


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Coral

sexta-feira, outubro 06, 2006

SOS - ADSE

O meu sub-sistema de saúde é a ADSE.Hoje fui fazer análises de acordo com as instruções da minha cardiologista.
Paguei a módica quantia de 25 euros e 1 cêntimo, quando anteriormente pagaria 6 euros e 65 cêntimos.
Como vou começar a descontar mais para a ADSE sofro um duplo aumento! E comigo milhares de funcionários públicos que, no caso dos professores, por exemplo, têm as carreiras congeladas.
Entretanto a fuga aos impostos por parte dos privados e o desperdício do Governo Central e da maioria dos Municípios continua!
Mas o que é isto?!

quarta-feira, outubro 04, 2006

Ah doce e enganador Outono!

O Outono doce, dourado, das vindimas, do cheiro a mosto, a castanhas assadas, das nuvens sulcando os céus, feitas gaivotas, canoas, carruagens de contos de fadas puxadas por golfinhos, fiapos de algodão é um enganador.
Sai uma pessoa de casa, com um cenário de agradável doçura, de roupa leve, o sol ainda quentinho e volta encharcado até aos ossos e a espirrar sem parar.
Sai de casa debaixo de um vendaval, de kispo, chapéu-de-chuva, quiçá de botas e regressa afogueado, suado, com o kispo desastradamente debaixo do braço e sem chapéu-de-chuva que, entretanto, foi largado em qualquer lado.
Ah doce e enganador Outono!...

sábado, setembro 30, 2006

Sábado

Hoje, sábado, não há nada de novo debaixo do sol. Nem sol!
À noite, jantar em família com um jovem casal amigo.
E isso é bom.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Parabéns, meu filho!

Fixas-me com um olhar de esmalte e o teu sorriso aberto e jovem mantém-se inalterável.
Digo em voz alta:
- Parabéns, meu filho!
Apenas me responde o vento que passa por sobre a cidade de mármore onde moras agora!

quarta-feira, setembro 27, 2006

Ronda de três caminhos

1. Tem os olhos fechados, a boca aberta num trejeito de dor, um braço erguido acima da cabeça, é jovem, bonita, veste um casaco rosa e jeans.
"Canta" o triste fado dos desempregados de Nelas e Portalegre!
Considero os empresários destas multinacionais uns criminosos e o Governo ( este e todos os outros )frouxo face à fuga de quem, a maior parte das vezes, recebeu, de mão beijada, terrenos e empréstimos a baixo juro, além de se terem comprometido a X anos de laboração.

2. A PJ criou "um corpo especial" para "atacar" a corrupção nas autarquias, no desporto e na administração central.
Só agora porquê?
Como sou crédula estou ansiosa para ver os resultados.
E já agora não se esqueçam dos corruptores.
"Tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica de fora".

3. Uma criança morreu e outra está em perigo de vida. Andavam a brincar junto da linha ferroviária de acesso aberto.
Não se pode pedir responsabilidades a crianças de 4 e 5 anos.
Toda a culpa deve recaír sobre a Refer devido à sua imperdoável actuação.
Agora é que vão a correr fechar o acesso.
Quando uma criança morre ficamos todos de luto pelo futuro que não chegou a haver.
Mas quando essa morte podia ser evitada também a revolta se apodera de nós.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Não arranjei melhor

" Une injustice faite à un seul est une ménace faite à tous."

Montesquieu ( 1689 - 1755 )

sexta-feira, setembro 22, 2006

Não tens mais?

Qual milagre da multiplicação dos pães e dos peixes ( espero que não seja heresia ), as maçãs dos quintais da "belle-fmille" não param de chegar.
Deitam aquele cheirinho que impregnava, durante parte do ano, o celeiro da minha avó, têm aquele sabor da fruta artesanal, feita à mão pela mãe natureza, mas têm um aspecto pouco recomendável para os cânones da U.E..
Assim decidi-me a transformá-las em doce.
Espero que os amigos sejam suficientemente generosos para depois me dizerem:
- Era uma delícia! Não tens mais?

quinta-feira, setembro 21, 2006

Já não se vindima na Mata!

Deitei-me muito tarde e o vento já se anunciava no espanta-espíritos da varanda.
Acordei cedo com um som estranho vindo da rua.
Levantei-me e fui à cozinha onde a persiana raramente se desce.
Chovia copiosamente (como diria a minha amiga Zé, de Nisa).
Voltei para a cama, com as vindimas no pensamento. Tanta uva por apanhar!...
Pensei na Elvira, cujo blog visito e no Carlos Pereira que também encontro por lá.Espero que, pelo menos eles, tenham terminado as suas vindimas.
Depois, estupidamente, respirei aliviada. Veio-me ao pensamento a Mata, esse espaço mítico da minha infância, coberto de vinhas e onde já não se vindima há muitos anos.
Agora, na Mata só há espinheiras!

terça-feira, setembro 19, 2006

O Quarto do Filho

No T2, de razoáveis dimensões, transformado em lar, há um quarto multiusos.
Aos fins de semana, de 15 em 15 dias, é o quarto do filho e adquire aquele ar agradavelmente "negligé" usado pelos rapazes que vivem sozinhos.
Durante o resto do tempo divide-se entre quarto de vestir do género feminino, rouparia na área de lençóis, atoalhados e outras miudezas necessárias ao quotidiano caseiro, dormitório da Nocas, que, apesar de ter um cesto em todas as divisões, privilegia este espaço, escritório de lazer e estudo informático, de leitura de "desvairados" géneros literários, entre os quais o género blog, de escrita de pequenas crónicas para o jornal da terra natal e ainda câmara de recepção às amigas quando a sala está demasiado ocupada.
É ou não um quarto multiusos?
Estivessem assim tão bem ocupados os espaços multiusos que proliferam por aí, nem sempre no sítio certo!

segunda-feira, setembro 18, 2006

Fruta da Época

Os figos e as uvas da mana ainda não terminaram, as maçãs e as pêras dos quintais da "belle-famille" também não.
Resultado - hoje de manhã, a saia creme que deixei na lavandaria, por esquecimento, durante um mês, já não me serviu.
Decisão imediata - voltar a fazer caminhadas, sem deixar estragar a fruta!

domingo, setembro 17, 2006

Arrefeceu

Arrefeceu.
Acabou-se o tempo de andar descalça em casa.

Diálogo Nocturno

- Ouves?
- O quê?
- Um fio de água a correr!
- Não, não ouço|
- Sustém a respiração. Escuta!
- Ah! Sim, estou a ouvir. Mas eu fechei bem a torneira...
- Não é de uma torneira!
- Então de onde vem este som?
- Do tanque que está lá fora, no jardim da quinta.
- Ah! Já não me lembrava onde estava!...

quarta-feira, setembro 13, 2006

Apenas uma casa...

Apesar da teimosia diária do dono que não desiste de abrir portas e janelas, do jardim que continua a florir, da cerejeira e da ameixoeira que continuam a dar os seus frutos, da parreira que dá pouco mais do que sombra e de três gatos que lá vivem, o silêncio sobrepõe-se a tudo!
Já não é um lar, é apenas uma casa...

terça-feira, setembro 12, 2006

Prémios para os melhores professores!

Eu nem queria acreditar!
O nosso Primeiro acabou de afirmar, num dos canais de televisão, tendo ao lado a sereníssima ministra da tutela, que para o ano os melhores professores terão um prémio!
Toca a começar a trabalhar para o prémio, em vez de andarem a queixar-se!

segunda-feira, setembro 11, 2006

11 de Setembro

E o 11 de Setembro de 1973, no Chile?
Será que os USA não tiveram nada a ver com essa tragédia?
Claro que lamento, profundamente, quer um, quer outro 11 de Setembro!

domingo, setembro 10, 2006

Gato que brincas na rua


Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu,
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa

O Douro visto de Galafura


Do miradouro de Galafura, onde se encontra a capelinha de S.Leonardo, foi assim que o meu olhar extasiado viu o Douro, muito recentemente.
Uma fita azul debruada a verde já com alguns traços de Outono.
Miguel Torga apresentou-nos, no belo poema S.Leonardo de Galafura, esta região "por um lado paisagisticamente ímpar, por outro, como resultado do trabalho insano de gerações e gerações de homens." ( Estas são as palavras de um outro poeta do Douro, A.M. Pires Cabral ao receber o Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus, nestes dias de festejos dos 250 anos da primeira Região Demarcada do mundo.)

sexta-feira, setembro 08, 2006

Os espíritos regressaram

Há muito tempo que não ouvia o tilintar do espanta-espíritos que se encontra estrategicamente pendurado na minha varanda e começava a estar preocupada.
Pensava mesmo que ele tinha perdido a validade ou que os espíritos tinham desistido de me visitar.
Hoje voltei a ouvir esse tilintar tão característico e pude concluir que, afinal, tinham estado de férias!

terça-feira, setembro 05, 2006

Paralelismo

Ao longo dos anos, a minha mãe foi guardando tudo o que era retalho de tecido dos mais variados padrões, texturas, cores e tamanho. Com eles fazia paninhos de tabuleiro, saquinhos, pequenos "naperons" para os cestos de pão que, no Natal, serviam de presentes para as mulheres da família e as amigas.
Ao longo dos anos, tenho guardado tudo o que é revista, artigo de jornal, apontamentos de todas as espécies ( de colóquios, acções de formação, debates), trabalhos realizados no âmbito de estágios meus e alheios, de frequência de especializações, de pós-graduações, enfim toneladas de papel dentro da minha área profissional!
Há dias foi tudo para a reciclagem!

segunda-feira, setembro 04, 2006

Último acto em Lisboa

Este é o título de um policial publicado pela Gradiva, sendo o seu autor Robert Wilson.
O livro é bastante interessante e um dos encaixes narrativos passa-se durante a Segunda Guerra Mundial ente Portugal e a Alemanha.
Um pequeno extracto para aguçar a curiosidade:
"- Sim, sim, nós sabemos - disse Hanke. - A nossa Legação em Lisboa vai ter de persuadir Salazar de que a Alemanha merece a parte de leão do volfrâmio "livre" antes dos Ingleses.
- Vou continuar a comprar e a passar contrabando - disse Felsen - , mas daqui em diante as grandes quantidades vão ter de ser negociadas nos gabinetes de Lisboa, e não nos campos da Beira. Só que isso vai levar tempo...
- Porquê?
- Pergunte ao Poser. Ele considera Salazar o maior vigarista da história desde Napoleão."

domingo, setembro 03, 2006

Festa com um rio ao fundo

Pela primeira vez fui à Festa!
O dia estava esplendoroso, o rio ao fundo de um azul brilhante, os milhares de pessoas movimentavam-se em todos os sentidos na busca dos seus programas favoritos.
Gostei da diversidade da música, do cinema, da animação nas ruas, da gastronomia, do artesanato nacional e internacional, da Feira do Livro, do convívio com pessoas das mais diversas origens.
Mas gostei, sobretudo, de ter passado um dia sem que o olhar mesmo à beira de água não se enchesse de mágoa!

sexta-feira, setembro 01, 2006

Encontrar Tânger

"A falta de iluminação esconde os pontos de referência habituais, e Tânger é isto mesmo: uma ausência inquietante de pontos de referência.Não pode haver certezas num cacho de casas levitando sobre dois mares e dois mundos, um pé no Oriente, outro no Ocidente.Tânger já não é Marrocos, não é sequer África, naturalmente ainda não é Europa, não é um porto atlântico, mas também não é uma cidade mediterrânica.
Tânger foge às definições, aos lugares- comuns das cidades e das gentes que as habitam. A única certeza dá-a, com ar malandro, um vendedor, sabe-se lá de quê, numa viela da medina:" Amigo, se procuras algo, é certo que em Tânger encontras."

Gonçalo Cadilhe, in A Lua Pode Esperar


Nota:
Para aguçar o apetite a quem ainda não foi de férias.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Ainda o caso Mateus

Embora vibre e sofra com a Selecção Nacional e com o Sporting, não sou uma conhecedora dos bastidores do futebol. Confesso ainda que não morro de amores pelo Sr. Major nem por Gilberto Madaíl. Mas finalmente percebi o que significa este imbróglio para o futebol português no estrangeiro.
Têm toda a razão de ser os desabafos que tenho encontrado na blogosfera e na comunicação social. Está em causa a imagem do país a partir da marca prestigiada que é o futebol nacional.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Sopra de mais o vento...

Sopra de mais o vento
Para eu poder descansar...
Há no meu pensamento
Qualquer coisa que vai parar...

Talvez esta coisa da alma
Que acha real a vida...
Talvez esta coisa calma
Que me faz a alma vivida...

Sopra um vento excessivo...
Tenho medo de pensar...
O meu mistério eu avivo
Se me perco a meditar.

Vento que passa e esquece,
Poeira que se ergue e cai...
Ai de mim se eu pudesse
Saber o que em mim vai!...

Fernando Pessoa, in Cancioneiro

terça-feira, agosto 29, 2006

Será assim tão importante?

Têm sido gastas horas e horas de tempo de antena em horário nobre com o "caso Mateus", Gil Vicente e Benfica.
Aqui, chega-me a voz de comando do Sr. Major que não se cala quase há uma hora.
Quem vive num apartamento pequeno tem de aturar estes suplícios!
Se está alguém desse lado explique-me, por favor, como se eu fosse muito burra o porquê de tanto tempo com um assunto destes.

Sem Rumo

Ainda estou a dar os primeiros passos e, como já disse, ando à procura de rumo.
Encontro-me completamente à deriva!